Estudo da Unep aponta que pelo menos 1,8 bilhão de crianças com menos de cinco anos de idade morrem por ano em decorrência da má qualidade da água e da falta saneamento básico
Por Rogério Ferro, do Instituto Akatu
O mais recente relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em inglês) faz um alerta que merece atenção e ação de todos: o consumo e o uso de água não tratada e poluída matam mais do que todas as formas de violência, incluindo as guerras. Pelo menos 1,8 bilhão de crianças com menos de cinco anos de idade morrem a cada ano em decorrência da má qualidade da água e da falta de saneamento básico. O estudo foi divulgado no dia 22 de março – Dia Mundial da Água – em Nairóbi, capital do Quênia, na África.
O documento intitulado Limpar as águas: um enfoque em soluções de qualidade da água (tradução livre) afirma que as crianças são as principais vítimas da “água doente”, representando uma morte no mundo a cada 20 segundos, por isso o alerta para a necessidade de adoção de medidas urgentes. "Se o mundo pretende... sobreviver em um planeta de seis bilhões de pessoas, caminhando para mais de nove bilhões até 2050, precisamos nos tornar mais inteligentes sobre a administração de água de esgoto", disse o diretor da Unep, Achim Steiner. "O esgoto está literalmente matando pessoas."
Segundo o estudo, a água contaminada é também um dos fatores chave para o aumento de mortes de vidas vegetais e animais em mares e oceanos de todo o mundo. São dois milhões de toneladas de resíduos, que contaminam cerca de dois bilhões de toneladas de água diariamente, causando gigantescas "zonas mortas" e sufocando recifes de corais e peixes.
“Trata-se de um dado concreto de que nós, humanos, somos diretamente prejudicados por nossas ações irresponsáveis contra o meio ambiente. Portanto, espera-se que informações como essas possam sensibilizar aquela parcela da população que ainda não se preocupa com a conservação do meio ambiente, que descartam de forma incorreta materiais perigosos para a saúde humana”, afirma Heloisa Mello, gerente de operações do Instituto Akatu. “Por outro lado, é um estímulo e incentivo para aqueles que têm essa preocupação, no sentido de que devem redobrar seus esforços, sensibilizando familiares, vizinhos e até colegas de trabalho”, completa.
Problema será maior nos próximos anos
Ainda de acordo com o relatório, as populações urbanas deverão dobrar de tamanho nas próximas quatro décadas. A projeção, portanto, é que os números subam dos atuais 3,4 bilhões para mais de 6 bilhões de pessoas. Nas grandes cidades já há carência de gestão adequada das águas residuais em decorrência do envelhecimento do sistema, de falhas na infraestrutura ou de esgoto insuficiente.
“O consumo consciente passa por exigir e pressionar as entidades competentes (governos e empresas) induzindo-as a disponibilizem estrutura necessária para que o nosso consumo cause menos impactos possíveis ao meio ambiente, a economia e a sociedade. Isso vai desde a escolha do produto que compramos, dando preferência às marcas ou empresas social e ambientalmente responsáveis, até ao acompanhamento das ações do vereador, do prefeito ou do deputado em que votamos”, propõe Mello.
Abaixo algumas dicas do Instituto Akatu que podem orientar você na conservação do meio ambiente:
- Exerça sua cidadania e cobre providências dos governantes
Procure saber como as autoridades de sua cidade tratam o problema do lixo e do saneamento básico. Cobre delas atitudes firmes no sentido de dar um tratamento adequado aos resíduos, como, por exemplo, programar e ampliar a coleta seletiva. Acompanhe a carreira dos políticos e apóie aqueles que apresentam propostas viáveis para solucionar o problema. Mas não se esqueça de colaborar para não sujar sua cidade: não jogue lixo nas ruas e recuse qualquer tipo de folhetos de propaganda;
- Lixo Eletrônico
Anualmente, 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico vão parar em aterros e depósitos em todo o mundo, entre eles 200 milhões de PCs completos. Este total representa 5% de todo o lixo produzido pela humanidade. Além do volume de resíduos eletro-eletrônicos ser muito grande, algumas peças contêm metais pesados como mercúrio, cádmio, chumbo e cromo, que são tóxicos e provocam graves doenças nos seres humanos. Quando entram em contato com o solo, esses componentes se decompõe e podem contaminar os lençóis freáticos, atingindo assim a população abastecida por essa água. Portanto:
a) Pense duas vezes antes de trocar: antes de trocar seu computador ou o celular velho por um novo, veja se isso é mesmo necessário. As vezes, no caso dos computadores, basta um upgrade, como o aumento da capacidade de memória, para que o equipamento continue tendo um bom desempenho por mais algum tempo. Outra atitude recomendada é tentar consertar o computador em vez de trocá-lo por um novo ao primeiro problema apresentado. E, tanto em relação a computadores quanto a celulares, é bom ponderar se a troca pelo novo não é apenas por razões estéticas, ou se de fato o aparelho mais moderno vai atender a reais necessidades práticas.
b) Lugar de eletrônicos não é no lixo: ao trocar de computador ou de celular, dê um destino correto ao aparelho velho, em vez de jogá-lo no lixo. As grandes operadoras de telefonia celular já recolhem, em suas lojas espalhadas pelo Brasil, tanto aparelhos quanto baterias usadas. No caso dos computadores, o consumidor pode procurar alguma empresa que faça a reciclagem dos equipamentos. Caso não encontre, pode doá-los a ONGs que trabalham com inclusão digital ou mesmo a entidades que aceitam doações de qualquer equipamento antigo, mesmo que não funcione mais.
c) Prefira empresas que se preocupam com os impactos dos produtos: se decidir pela compra de um novo computador ou celular, você pode dar preferência as empresas que demonstram maior preocupação com os impactos da fabricação e do descarte de seus produtos sobre o meio ambiente. Assim, você valorizará as boas práticas, estimulando as empresas a manterem essa conduta e incentivando outras a fazerem o mesmo.
- Óleo de frituras não vai para a pia
Não jogue na pia o óleo usado nas frituras. O óleo pode entupir os encanamentos da casa ou do prédio, trazendo prejuízo aos moradores. Além disso, a presença do óleo na rede de esgoto e nas estações de tratamento dificulta e encarece o tratamento de esgoto, contribuindo para gastos públicos mais altos e contas de água mais caras para o consumidor.
Em regiões onde não há tratamento do esgoto, o impacto é ainda pior, pois o óleo vai parar diretamente nos rios. Nesse caso, o óleo não apenas contamina a água, mas também se deposita na superfície de rios e represas. Isso impede a entrada de luz que alimenta a matéria orgânica que serve de alimento aos peixes, dificultando sua sobrevivência.
Descartar o óleo usado no lixo, acondicionado em um vidro ou em um recipiente plástico, é uma alternativa melhor do que jogá-lo na pia, mas também não é uma boa solução. No Brasil, 60% do lixo produzido não vai para aterros sanitários — o que seria a destinação correta —, mas jogado em lixões. Como o solo dos lixões não é impermeável, o óleo se infiltra pelo chão e contamina a água dos lençóis freáticos.
Para evitar todos esses danos ambientais, pegue o óleo que sobrou das frituras e coloque num pote de vidro ou de plástico. Leve esse recipiente com óleo usado a algum ponto de coleta, que se proponha a encaminhá-lo a reciclagem. A coleta seletiva do óleo também traz benefícios sociais, pois fornece matéria-prima as ONGs que trabalham com a reciclagem desse resíduo, reaproveitando-o na fabricação de sabão e de biodiesel.
Fonte: Unep Brasil - Instituto Akatu
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